No intuito de evitar que excertos de
meus ditos, volta e meia, repassados ou até publicados na imprensa, sobreponham-se às minhas tradicionais
manifestações, repasso um conjunto de reflexões, narrações de fatos que
protagonizei quando no serviço ativo e,
para esvaziar algum discurso, muito em voga, não trato de atirar pedra
na caravana, aduzo dito que minhas manifestações têm o condão do zelo em
preservarmos um futuro sólido aos pósteros e minimizar aflições da nossa
velhice, pois entendo que há um descuido tanto com a administração dos recursos
humanos de topo, como com a precocidade
da nossa carreira.
1. Seguidamente a imprensa e pessoas de um
modo geral me perguntam sobre as causas que contribuíram para que eu fosse
exonerado do cargo de Comandante Geral, quando então cito que dentre elas pode
ter sido a minha insistência junto aos Chefes de Poderes para que alguns
servidores retornassem à tropa, para produzir um revezamento salutar e cumprir
o rito da carreira, especialmente do Oficialato. Outros fatos conheci e não
interessam ser tornados públicos, porque não interferem no curso da minha
história e os desconhecidos, em nada aguçam a minha curiosidade.
2. Sobre a pressão dos Oficiais,
sempre me chegava notícia de que havia uma espécie de confraria daqueles que se
achavam à disposição em locais onde ocorria previsão de locação de militares
estaduais, mas que, não aceitavam voltar, mesmo que fora da BM por longo tempo.
Digo que não eram todos, mas alguns mais aferrados ao gosto pelo tapete
vermelho e aos afundantes sofás que embelezam antessalas dos Poderes, tudo
regado a um contracheque complementar, nada desprezível e até justo.
3. Os servidores militares que
se acham na Força Tarefa dos Presídios foram para cumprir uma missão temporária
e até hoje lá se encontram sem previsão de retorno, em desvio, também, porque
não se trata de missão específica da BM, mas os compromissos institucionais nos
levam a suportar esta carga de contar com um Batalhão fora. Minha insurgência
também se inflete para questões de subordinação, pois sempre disse e ainda digo
que, se o sistema prisional chegou a esta situação, onde nos passaram as mais
complexas casas, porque não nos delegaram por lei a sua Administração? Há um
problema de posicionamento estrutural, pois contamos com um Oficial Superior
(TCel) prestando serviço num local dirigido por um Agente Penitenciário, cuja
tradicional formação e status funcional em muito nos constrange. Lembre-se que
a Assembleia Legislativa tratou de aprovar lei escudando a direção da SUSEPE
para um Agente, pois por certo fora avisado de que era lugar comum na BM esse
questionamento.
4. Sempre disse que nem todas as
passagens à disposição podem ser vistas como irregulares, cito a Secretaria da
Segurança, a Casa Militar do Governador para fins de propiciar Segurança
pessoal do Governador, familiares e Assistência Militar às autoridades em
visita oficial ao Estado e atividades de Defesa Civil; um pequeno contingente para
a Assistência Militar do Vice Govenador e um reduzidíssimo número de Servidores
militares Oficiais, junto aos Chefes dos Poderes Legislativo, Judiciário,
Tribunal de Contas e Tribunal de Justiça Militar, todos com previsão de tempo
para cumprir a missão, vez que aos militares, de um modo geral, existe uma exigência da carreira que se chama
de TEMPO DE ARREGIMENTAÇÃO, ou seja, regra geral é na caserna e, eventualmente, à disposição; Jamais pode se conceber que um
CORONEL da ativa, topo da carreira e destinado a altas funções estratégicas e
dos Comandos maiores possa, pela mera busca de
pecúnia incorporável, substituir funções tradicionais de Capitães
Ajudante de Ordens ou no máximo de um
Major na Assistência Militar!
5. Sobre o que pensa o atual Comandante,
não sei, até porque não tenho muita proximidade com a sua atuação e apenas
manifestei minha indignação com o seu apoio ou iniciativa em reduzir o
interstício dos Oficiais, buscando contemplar benefícios para alguns casos
especiais, quando em verdade temos falta mesmo é na base, na execução e entendo
que algumas situações deveriam ser revistas com muita urgência, como é caso da
quota compulsória que é uma excrescência e que não serve mais nos tempos
atuais, assim como deveríamos incentivar a permanência dos Oficiais no serviço
ativo, porque há um grande investimento do Estado no servidor de um modo geral
e, em especial nos militares, que se submetem às avaliações físicas e de saúde
periódicas, possuem cursos de especialização e aprimoramento muito qualificados
e com carga horária análoga à pós-graduação da Universidade e muitas vezes
nesta, com mesmo quadro de professores, em sua maioria, sem contar que se acham
no amadurecimento (ápice) da carreira, mas que também deveria haver um
incentivo remuneratório compatível, pois seria menos oneroso para o Estado.
Aqui já se demonstra mais uma desvantagem em relação aos Delegados de Polícia
que contam com a gratificação de permanência e substituições em patamares
consideráveis. – Há discriminação no próprio âmbito da Secretaria da Segurança!
COMPLEMENTO
MINHAS AVALIAÇÕES SOBRE A BRIGADA SEMPRE DIZENDO QUE:
Não podemos mais conviver com uma
tradicional subestimação do Oficialato brigadiano, pois são pessoas sempre
muito exigidas, submetidas a toda espécie de rigor quanto a horários extensos,
multiplicidade de tarefas internas e externas, de polícia judiciária militar,
como judiciária integrando, sem remuneração, os Conselhos da Justiça Militar,
seguidamente sendo alvos de IP, IPM e Processos, sem assistência judiciária e mesmo com tamanha
demanda e apego ao ofício de polícia, não se consegue reconhecimento social e
muito menos governamental, ao ponto de conviver-se com ditos e ações
demagógicas de quem trabalha é o Soldado – quando em verdade este apenas
cumpre turnos ou jornadas, às vezes
empregando mais tempo na atividade paralela (bico) do que na BM e quando lá se
fere, quem socorre é a previdência e saúde do Estado.
Sempre referencio que sobre
ingratidão e desconsideração governamental que vem se constituindo praxe, basta
ver a carreira dos novéis Defensores Público ou mesmo os Procuradores do
Estado, que até pouco tempo tinham
remuneração similar a dos Delegados e
dos Coronéis e agora deram um salto.
Reconheço não integrar o rol das carreiras jurídicas, mas outros servidores do
Estado também não integram e tem vencimentos paritários, ao passo que o
policial vive sempre aquém, sem que haja motivo palpável para esta
desconsideração.
Desta forma trato de lembrar que
os Oficiais da Brigada se orgulham em integrar seus quadros e lhe devotam
elevado respeito pessoal e profissional. Triste é a nossa certeza que nas
avaliações de fora e da própria imprensa, tem sido costume, serem os Coronéis responsabilizados
e sempre apontados como desidiosos e maus gestores. Por isso afirmo que pode
haver equívocos conceituais, mas a Oficialidade brigadiana é laboriosa, séria,
estudiosa; proba e compromissada com a coisa pública, mas por vezes, vivem sob
pressão de autoridades que pouco nos conhecem e nem fazem questão de atuar de
outra forma. Apenas se servem da BM e tratam de somente repassar a esperança de
dias melhores.
Repito que a nossa vida
funcional sempre foi repleta de ingratidão, mesmo que sempre nos mantivemos
disciplinados e silentes, evitando comprometer governos ou autoridades, mas é
situação que vai cansando a nossa gente. Temos que sempre cuidar o que vamos
dizer quando estamos na ativa e em especial no Comando, a situação fica ainda
pior.
Quando dou alguma entrevista para o
jornal ou outro meio qualquer, sempre vislumbro uma grande oportunidade e
esperança em contemplar o descortinar de uma realidade na sua crueza, mesmo que
possa trazer algum desconforto ou contrariedade para algumas poucas pessoas,
mas o faço em conta do respeito ao coletivo, pois quem não pode pagar é a
sociedade com o silêncio obsequioso, até compreensível, pois cada um tem a
postura própria e precisa ser respeitada, mas o que não pode é sempre a Brigada
e seus Comandos serem mal vistos como as histórias de inúmeras reportagens, de
regra, sempre contemplam.
Não tenho receio de nada que
digo e sempre podem contar com a minha voz, pois acredito que este momento em
que tanto se clama por mais segurança, onde leia-se, por primeiro , mais
Brigada Militar, importa que se descortine a verdade , pois a escassez de efetivos, especialmente na
base, tem responsáveis: os governos e, quando tratam de fazer o recompletamento do
efetivo, ainda cobram que os coloquem na
rua, o que não aceitamos e refutamos, pois sem o conveniente treinamento é
temerário, sem contar leis benevolentes de cunho eleitoreiras que beneficiaram e incentivaram a passagem
para a reserva de praças, promovendo-os.
Tenhamos a certeza de que não
foi com o assentimento dos Oficiais, os quais não gozam de similar benefício,
pois para nós, ditas vantagens foram, no passado, consideradas imorais, assim
como o Auxílio Moradia, Diária de Policiamento e outras vantagens que foram nos
tirando sob a promessa de compensações que nunca vieram, mas como digo sempre:
SÓ SOMOS RELEVANTES NO CLAMOR E EM SITUAÇÕES CONFLITIVAS NA CALADA DA NOITE
QUANDO RESTAURAMOS O SONO DE ALGUMAS AUTORIDADES, MAS NO RAIAR DO DIA
RETORNAMOS AO LUGAR SECUNDÁRIO QUE NOS DEDICAM – Assim tem sido ao longo do
tempo.
Reafirmo que a Brigada tem que
entrar em forma, sob pena de desnaturá-la e comprometer-se a confiança que a
sociedade gaúcha lhe dedica!
Nelson Pafiadache da Rocha – Coronel RR