O inusitado
sempre acontece, assim como as lições que recolhemos seguidamente são refutadas
pela sucessão, que poderia suavizar seu andar. Assim, se viver é difícil, morrer
é pior. Morre-se também vivendo mal e aí se morre aos poucos. Triste é quando
nos matamos pelo despreparo que aniquila tudo. Por isso somos instados a viver
em eterna vigilância, perseguindo sempre a dignidade. Ilustra esse introito
dito de Guimarães Rosa em Grandes Sertões e Veredas: “Viver – não é? - é muito perigoso. Porque ainda não se
sabe. Porque, aprender- a -viver é que é o viver, mesmo.”.
O fato em evidência no
meio castrense estadual centra-se na prisão controversa do Oficial da Brigada.
Dos ditos internos, reproduzo confidência de um Oficial de proa: “Cada dia se torna mais difícil manter-se na ativa com
ideais de grandeza institucional”. É
forte o dito, mas, pela sua relevância, deve suscitar uma reflexão crítica interna corporis. Mesmo que o Comandante
Geral tenha garantido que irá dialogar com o acusado e tenha manifestado que a
ação foi desenvolvida com isenção e que o próprio respaldo judicial de primeira
hora abaliza o agir da Corregedoria, não se retira a marca da precipitação e do
constrangimento, em tese, perpetrado.
Levarei aos
meus amigos e colegas a preocupação do Comandante, mas, em respeito a sua
pessoa e até mesmo a dos atores do triste episódio - pessoas do bem e
trabalhadoras - também centro minha avaliação na falta de visão contextual, aliada
a uma falta de cultura geral e até institucional do todo. Nossa gente lê pouco,
e quem não lê está fadado a imitar e a refletir pouco. Portanto, nunca será um
protagonista inconteste, sendo-lhes dificultoso discernir quando um ato de um
miliciano possa
ter ferido valores fundamentais da vida da caserna. No caso em pauta, abdicaram
de uma ação serena em sede administrativa e com as reservas que a lei garante.
Parece ter faltado a devida proporcionalidade entre o aponte e a ação encetada.
Desse episódio inusitado, evoquei Dom
Quixote, de Cervantes, que enaltecendo as letras em comparação com as armas
disse: “O objetivo das letras, digo das
letras humanas é entender e fazer com que as boas leis sejam obedecidas, isto
é, por em pratos limpos a justiça distributiva e dar a cada um o que é seu”. Esse escrito me move a dizer que o
aprimoramento de uma Instituição requisita dos seus, para melhor avaliarem
os fatos, o apego aos bons livros, frequência em cursos bem concebidos, que
requisitem literatura mínima, pois do contrário o trato com o “Crime será
sempre o Castigo”; jamais seremos “O Príncipe” e nem ao menos “O Pequeno
Príncipe”, talvez só “Os Miseráveis”, sem “Grandes Esperanças” e, por fim,
daremos ou nos darão “Adeus á Armas” e viveremos “Cem Anos de Solidão”.
O certo
é que a Brigada não conta no seu oficialato com “Homem sem Qualidade”, de “Vida
Líquida”, mas se inexistir outro motivo a dar causa ao sofrimento do nosso
colega e amigo de tantos, espera-se o restauro do mal feito por uma boa “Conversa
na Catedral”, e, após, que se reafirme ao Governador que a Brigada não se
submete a pretensos “Donos do Poder”, mas somente ao primado da lei, até para a
necessária depuração dos seus quadros. Nem sempre acertamos, mas é certo que “Ainda
Resta uma Esperança”, a de que não
ficaremos de braços cruzados a nos perguntar “Por Quem os Sinos Dobram”, pois
aí diremos que é por todos nós, porque a desgraça de um colega nos diminui, já
que somos parte do gênero brigadiano.
Coronel RR Nelson
Pafiadache da Rocha
Coo sempre, nosso Ex-Cmt-G (ex pra ti, colega ingrato...) maniefstou-se de forma serena, tranquila e acauteladora, não sem, todavia, enveredar para o academicismo literário para bater de forma contundente na ação despropositada perpetrada contra o referido Oficial Superior (que sequer conheço). Espero, na sequência, que o meu bom amigo Cel Afonso Landa Camargo elabore uma poesia de relhaços... A conclusão do Nelson é magnífica ("Nem sempre acertamos, mas é certo que “Ainda Resta uma Esperança”, a de que não ficaremos de braços cruzados a nos perguntar “Por Quem os Sinos Dobram”, pois aí diremos que é por todos nós, porque a desgraça de um colega nos diminui, já que somos parte do gênero brigadiano."). Realmente, essa é uma atitude corporativista, mas no bom sentido, não no defender um transgressor mas a forma como foi atingida e por que não dizer maculada a honra não só do TC em comento mas de todos nós. E com essa chinelada que o meu traseiro acusou, vou tratar de ler mais...
ResponderExcluirConheço o Ten Cel Florivaldo Pereira Damasceno e jamais soube de qualquer atitude que viesse a desabonar sua conduta de oficial da Gloriosa Brigada Militar. A forma pirotécnica que aconteceu sua prisão mancha a imagem de respeito e valoração dos integrantes da BM. Algumas atitudes para serem respaldadas pela legalidade requer no mínimo uma ação guardada pelo sigilo e equilibrada. Parabéns pela manifestação sensata e dosada de grande respeito a todos os oficiais de nível superior. "Semper Fidelis". Gastão Gal
ResponderExcluirPois estranhei muito a pressa do Comando Geral na montagem de um verdadeiro circo com direito a todos os atores que nele se compõe. Por pior que fosse o TC Florivaldo, a ocorrência em si, numa análise superficial, que normalmente é a do telespectador, não me parece que seria de tamanha envergadura a ponto de submeter o Oficialato Superior da nossa Corporação ao constrangimento e a execração pública como foi feito. Faltou ao Comando a serenidade de um juiz e as devidas cautelas na exposição de um fato, ainda por ser devidamente depurado, na difusão televisiva, em horário nobre, com senão a maior audiência das novela da Globo em muito se aproximando disso. Paulo Astor Cordeiro
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