Em um reino do norte, especificamente num condado considerado a
“Metrópole do Mundo”, viviam cerca de 5.000.000 de seres. Eram
prósperos, com alto índice de qualidade de vida, excelente
educação, gozavam de bom atendimento médico, entretanto
enfrentavam alto índice de criminalidade. As gangues dominavam os
quarteirões. As drogas corriam soltas. A prostituição era visível
nas ruas. Pichações, alto ruído e desordens de toda ordem
proliferava. Os seres ordeiros e pacatos já não agüentavam mais.
A sua polícia, formada por 50.000 Dálmatas era ineficaz. A
corrupção corria solta em parcela do contingente. Outros eram
violentos. Havia os acomodados e poucos realizavam corretamente os
serviços policiais. Eram maltratados com baixos salários e pouco
incentivo e quando produziam alguma ação, era logo desqualificada
pelos juízes.
Então o Prefeito, ser inteligente e perspicaz tratou de contratar
um técnico experiente, com longa carreira policial e que já havia
solucionado problemas semelhantes em outros condados, apesar de
menores.
Ele e sua equipe, num trabalho sério e científico, diagnosticaram o
problema e passaram a execução de programas definidos, com metas
pré-determinadas. Primeiro atuaram como se diz, no “campo interno”
sobre os Dálmatas. Começaram dando-lhes um salário digno.
Aperfeiçoaram o treinamento. Dotaram a policia de legislação
firme que possibilitasse a correição em caso de desvio de conduta.
Adquiriram equipamentos modernos, eficazes e em quantidade de forma
que não houvesse eventuais faltas. Dispensaram o que puderam dos
corruptos. Monitoraram e deram tratamento aos violentos. Os bons logo
trataram de empurrar os acomodados. Tudo isso com rígida disciplina
e hierarquia como ocorre nos reinos de primeiro mundo.
Mas isso não resolveu os problemas, pois a criminalidade continuava
agindo.
Passaram então para o chamado “campo externo”. Com o amparo das
Leis e apoio do judiciário, criaram então programas voltados para a
comunidade infratora. Viram que só prender e processar ainda não
resolvia a questão, porque muitos seres ditos “de bem”,
continuavam a cometer delitos e facilitar a vida dos infratores.
Passaram então não somente prender, mas confiscar os bens de
agentes ativos e passivos utilizados como instrumento do crime.
Prédios, veículos e tudo que fosse relacionado com o crime foram
confiscados. Pasmem. Até carros de condutores que abordavam
prostitutas nas ruas foram confiscados causando “verdadeiramente”
um problema para o infrator. Ocorre que lá é reino de primeiro
mundo e ai não há truculência.
A normalidade voltou a imperar e isso foi conhecido mundialmente
como “Tolerância Zero”.
Já num reino ao sul, onde milhões de seres vivem à margem da
sociedade, com baixos salários, educação e saúde deficientes,
moradia e saneamento básico precário, a criminalidade e a
impunidade imperam.
Seus habitantes não falam inglês, porém, nomes pomposos como
“Cracolândia”, “Raves”, “Black Blocs” e outros adjetivos
são a “onda da vez”. Vivem felizes com suas festas pagãs,
religiosas e até mistas, onde as Arenas a todos os finais de semana
apaziguam e acalmam o sofrimento de seus habitantes. Essas mesmas
Arenas também são palco de selvageria, no picadeiro e nas
arquibancadas, como o próprio nome designa.
A sua policia é composta por Pittbuls. Recrutados dessa mesma
sociedade comprometida, são treinados para a “guerra”. Para a
guerra sim, pois com a bandidagem altamente armada e dopada, é muito
mais do que uma guerra. São violentos, assassinos, corruptos e
inoperantes. São maltratados, mal pagos e possuem os piores
equipamentos do mercado. Qualquer bandidinho “pé de chinelo” tem
coisa melhor.
Os habitantes já não agüentam mais a sua inoperância, apesar de
não se revoltarem contra quem os impede de agir. Isso, porque os
governantes não querem ver “arranhadas suas imagens” de bons
políticos.
Ninguém se preocupa em pressionar os parlamentares a fim de dotar o
reino de leis efetivamente operantes. Só querem saber de festas e
desordens.
Por outro lado um grupo de “especialistas”, com formação em
escolas afamadas no mundo inteiro (Harvard, Sorbonne, Oxford e
outras, casualmente do Reino do Norte e seus parceiros), sem nenhuma
experiência prática, normalmente sociólogos ou filósofos
políticos, o que denigre a imagem desses profissionais, passaram a
afirmar que, se trocarem a pele dos bichanos de Pittbuls para
Dálmatas tudo estará resolvido.
Os mesmos Pittbuls agora com o uniforme de Dálmatas (não serão
mais militares e sim civis) deixarão de ser violentos, atuarão com
urbanidade, identificarão e prenderão apenas e exclusivamente os
criminosos e os cidadãos de bem poderão ir e vir sem nenhum
constrangimento.
Como não se consegue transformar Pittbuls em Dálmatas, os do reino
do sul, segundo-mundistas se contentam com “Cuscos” mesmo. Os
Cuscos continuarão a serem maltratados, mas os criminosos serão
agora educados, não haverá mais confrontos ou tumultos com torcidas
nas Arenas e todos viverão felizes para sempre.
E tem mais. Agora serão sindicalizados, mas como são
“Dálmatas-Cuscos”, jamais farão greve deixando os seres desse
reino do sul na “mão”. A hierarquia e a disciplina será
“consciente”. Não veremos Cuscos nas ruas barbudos, cabeludos,
mal trajados, encostados em postes e muros, ou pior, escondidos ou
enfiados no interior de bares e correlatos. Não haverá corrupção
nem “corpo mole”, afinal isso era coisa de Pitbull.
Se você encontrar alguma semelhança com algo que conheça tenha
certeza que será mera coincidência.
Cláudio Núncio - Coronel RR