Atualmente, a
grande polêmica que domina uma parcela significativa da sociedade brasileira
recai na insegurança pública, um sentimento que todos compartilhamos,
especialmente quem reside e trabalha em grandes centros urbanos. Busca-se maior
efetivo policial, novas tecnologias e estratégias de combate ao crime,
intercâmbios com instituições estrangeiras, modificação da legislação penal e
uma série de outras ações para reduzir o índice de violência e criminalidade. Mas
'poucos se atrevem a apontar o sistema carcerário nacional como um dos responsáveis
pela situação de crirninalidade em que vivemos.
Continuamos
com a visão de que o preso tem que pagar por seus crimes com sofrimento e
agonia, em um estado de suplício, como era apregoado na Idade Média, quando
havia castigos físicos cruéis. Este quadro é reproduzido ainda hoje no interior
de grande parte dos estabelecimentos penais brasileiros, onde mais de meio
milhão de apenados sobrevivem sem as mínimas condições de higiene e espaço,
alguns amontoados em delegacias distritais, condições não compatíveis com a Lei
de Execuções Penais. E, nestas condições, falar em ressocialização é apenas um
lampejo acadêmico onde muitos desconhecem a realidade.
O resultado deste
cenário escabroso não poderia ser outro. O crescimento da violência e da criminalidade,
reproduzindo um modelo imposto pelo próprio Estado. Neste sentido, as estatísticas
são assustadoras, pois apontam alto índice de reincidência, em tomo de 60% dos delitos
praticados nas grandes metrópoles do país, cometidos por egressos do sistema
penitenciário na condição de foragidos (1,5 milhão) ou em liberdade provisória,
além dos 3 milhões de mandados de prisão
expedidos e ainda não cumpridos por falta de vagas no sistema, entre outros
fatores.
Não se trata
aqui de defesa da população carcerária. Mas seria prudente conhecermos outro
lado da questão para uma análise mais ampla do fenômeno de epidemia criminal
que ataca a população e pela qual muitas vítimas já nem registram ocorrência
por sentirem-se afortunadas de não terem sido alvo de uma violência ainda maior.
Para atingirmos a tão desejada tranquilidade pública, além do fortalecimento
das instituições policiais, será necessária também uma reavaliação urgente do
que está ocorrendo dentro das cadeias e o que pode ser feito para melhorar as
condições dos apena- dos no cumprimento das penas, nem que para isso tenha que se
privatizar os estabelecimentos penais, como já ocorre em outros países.
E a adoção de
medidas complementares, como oferecer oportunidades para esta massa, em sua grande
maioria na faixa etária entre 23 e 45 anos, para se reinserir na sociedade
tomando-se pessoas economicamente ativas. Atualmente, pelo cenário que se
apresenta, não podemos falar em segurança pública sem tratar do sistema penitenciário
nacional, cuja população cresce vertiginosamente e estará nas ruas em curto espaço
de tempo.
Texto de André Luis Woloszin - Maj RR
Publicado em Zero Hora de 20/10/2012
O Grupo Centauro entende como oportuna a presente publicação, visto que o Maj Woloszin aborda o tema com propriedade e conhecimento de causa, valorizando sobremaneira a CNS.
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